"A haver uma lição útil a reter com a rica e complexa história evolutiva da nossa espécie, será que a cultura não nos permite transcender a biologia. A evolução humana nunca foi um caso de triunfo de cérebro sobre músculos, e devemos ser cépticos quanto à ficção científica de que o futuro será diferente. Por mais inteligentes que sejamos, não temos como alterar o corpo que herdámos de formas que não superficiais , e é uma arrogância perigosa pensar que podemos manipular pés, células hepáticas, cérebros ou qualquer outra parte do corpo para que fiquem melhores do que aquilo que a natureza faz. Quer gostemos ou não, somos símios bípedes um pouco anafados e pelados que desejam açúcar, sal, gordura e amido, mas mesmo assim estamos adaptados para o consumo de uma dieta variada de frutos e legumes fibrosos. frutos secos, sementes, tubérculos e carne magra. Apreciamos o descanso e a descontracção, mas o nosso corpo continua a ser o de um atleta de resistência que evoluiu para caminhar, e muitas vezes correr, muitos quilómetros por dia, bem como para escavar, trepar e transportar. Adoramos muitos confortos, mas não estamos adaptados para passar o dia no interior, sentados em cadeiras, com calçado como apoio, a olhar para livros ou ecrãs durante horas a fio. Consequentemente, milhares de milhões de pessoas sofrem de doenças de abundância, novidade e desuso que costumavam ser raras ou desconhecidas. Tratamos depois os sintomas dessas doenças porque é mais fácil, mais rentável e mais urgente do que tratar causas, muitas das quais até nem compreendemos. Ao fazê-lo, estamos a perpetua um ciclo de retroacção pernicioso - a desevolução - entre a cultura e a biologia.
Talvez este ciclo de retroacção não seja assim tão mau. Talvez cheguemos a uma espécie de estado estável em que aperfeiçoemos a ciência do tratamento das doenças de abundância, desuso e novidade. Duvido, e será tolo esperar que os cientistas do futuro venham finalmente vencer o cancro, a osteoporose ou a diabetes. Há uma forma melhor, que está disponível de imediato se prestarmos mais atenção ao como e ao porquê de o nosso corpo ter chegado ao que é. Ainda não sabemos como curar a maior parte das doenças que matam ou incapacitam as pessoas, mas sabemos como reduzir a sua probabilidade e por vezes evitamo-las ao usar o corpo que herdámos mais como ele evoluiu para ser usado. Tal como as inovações culturais causaram muitas doenças de incompatibilidade, outras inovações, culturais podem também ajudar-nos a preveni-las. Para o fazer será preciso um misto inteligente de ciência. formação e acção colectiva.
Tal como este não é o melhor dos mundos possíveis, o seu corpo não é o melhor dos corpos possíveis. Mas é o único que alguma vez terá, pelo que vale a pena apreciá-lo, cuidá-lo e protegê-lo. O passado do corpo humano foi moldado pela sobrevivência do forte, mas o futuro do seu corpo vai depender da forma como o usar. No final do Cândido, a crítica de Voltaire ao optimismo complacente, o herói encontra a paz, declarando: <Temos de cultivar o nosso jardim.> A isso eu acrescentaria: Temos de cultivar os nossos corpos."
Tal como este não é o melhor dos mundos possíveis, o seu corpo não é o melhor dos corpos possíveis. Mas é o único que alguma vez terá, pelo que vale a pena apreciá-lo, cuidá-lo e protegê-lo. O passado do corpo humano foi moldado pela sobrevivência do forte, mas o futuro do seu corpo vai depender da forma como o usar. No final do Cândido, a crítica de Voltaire ao optimismo complacente, o herói encontra a paz, declarando: <Temos de cultivar o nosso jardim.> A isso eu acrescentaria: Temos de cultivar os nossos corpos."
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